quinta-feira, 28 de julho de 2016

Zoneada

Nada se acha nessa zona de desconforto. Afora o lixo.
Cadê a terapeuta que não veio fazer faxina? Cadê?
tão profundamente triste,
gozava como se o mundo fosse acabar
num abrir e fechar de coxas.
MERITOCRACIA: Trabalhei pra caralho pra chegar onde cheguei. Meu dinheiro suado não dou pra essa gentinha que faz corpo mole. Nada de grana pra vagabundo, mendigo, poeta, preto. No máximo pra puta, e se fizer o serviço direito. Deus tá vendo que sou justo.

Ouvi um puta que pariu lá embaixo. Curiosa, fui até a janela. O moço dentro do carro metido a besta xingava o rapaz que dirigia um carro modesto, velhinho. Não conheço marca nem sei quem tinha razão (?). Lembrei do filme Relatos Selvagens. Nas esquinas das metrópolis, relatos diários de selvageria. Procurando bem, aguçando os sentidos, encontra-se um pouco de gentileza.

Inteligência Emocional

Arrogante, engoliu sapos a vida inteira para poder comer rã, manjar na companhia da rainha da Inglaterra. Achava a emoção um erro de cálculo. Não dos rins, do fígado.

(18.07.16)


noites de desamparo
e as lembranças embaraçadas no colo de minha mãe


sexta-feira, 13 de maio de 2016

quinta-feira, 12 de maio de 2016

de/sampa/ros
nem canalha nem cavalheiro. low profile. uma bela mulher nua deitada ao seu lado espera que se cumpra a promessa do gozo. no deezer, ele ouve suas músicas prediletas. satisfeito, vira pro outro lado da cama e dorme como um anjo bêbado. passiva, ela puxa o cobertor, tremendo de frio. lágrimas mornas no travesseiro. o mundo roda só. sóbrio também.
*

o cardiologista explicou o gráfico. de acordo com os exames, não havia nada no coração. graças a deus. estava vazio, vazio.


a quem não sabe beleza na margarida, não ofereça gérbera. nem explique poesia a quem não consegue prosa. gentileza nem sempre gera. quem me dera uma rosa uma rosa uma rosa...
Dizia que poeta bom devia ser infeliz para fazer poemas como Drummond
A qualquer preço, abraços. Confraternização. Engoliram sapos a seco e acordaram em congelar as brigas para depois da ceia de Natal. A qualquer custo, silêncios. Quem sabe esticar a corda até depois do Réveillon. Superstição. A qualquer tostão, sorrisos. Quiçá no Carnaval as máscaras caiam bem.
"Mulher bukowskiana". Leu isso em algum banheiro de bar, passou a chamá-la assim.
À fina luz de uma vela, bailaram suas diferenças no mesmo compasso. Ele - curiosa armadilha - quis saber a idade dela. Erro crasso. Veio à tona o pó debaixo da cama, a água fria do chuveiro, o barulho da pia. A insônia, o nó cego, o embaraço. Acabou-se a maravilha

e toda perda aperta no fundo
porque amamos com chaves de fenda


ela 
cismou que era cisne no olhar dele. lago singular. não demorou que um dia, procurou-se em sua retina. afogou. ali dançavam rios de bailarinas.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

 amores vãos sempre vem
amores nem sempre nãos


Como diria Hipócrates de Cós,


só os hipócritas são sãos.
queixava-se de estresse, estafa. o jovem médico recém-formado no sertanejo universitário dava plantão no whatsapp. online. dia e noite linkado. enquanto isso, na interminável fila do hospital socorrão pacientes desesperavam em off.


fresca de lavanda, sentava-se empertigada na borda da cadeira
como se nojo tivesse da própria bunda.



YES

O taxista bonitão me lança um sorriso largo e pergunta, sedutor:
- Pra onde vamos?
Hipnotizada, respondo:
- Vai indo que eu decido no meio do caminho.
- O tempo mudou...
- E como...
- Tá calor, né?
- E vai esquentar muito mais...
Ele me olha pelo retrovisor, enquanto eu, me sentindo a puta mais safada, surpreendo-me quando ele diz:
- Toda mulher é meio Leila Diniz.
enigmático sentimento de abandono em noite escura. pesadelo recorrente, imagem insondável. acomodar-se dentro da armadura. espartilhar a ternura inocente. 
ROTATÓRIA: uma mulher com cabelos longos de crente, cor acaju, girando a cabeça loucamente durante um show do Serguei.
antiga essa melancolia. costuma vestir roupa de domingo para ir à missa. não comunga nem se confessa. mantém o hábito.

sentada do outro lado da calçada do domingo, sorria, pateticamente banguela. ela, a mendiga. não eu, que tenho sisos em desalinho. mordo a carne devagar.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Abro a janela do primeiro andar e vejo as pessoas do meu bairro carregando um luto que não sabem exatamente o porquê. O moço de blusa preta e óculos escuros dentro do carrão branco buzina para o motorista da frente e manda ele tomar no cu. A dona da joalheria atravessa a rua com seu cachorrinho, botinhas pretas combinando com a roupa. Poucos minutos na janela para ver a hipocrisia fazer sua caminhada matinal. Passam várias pessoas de preto, alternando apenas com amarelo, azul e verde. Não é óbvio que usurpar as cores da nossa bandeira seja motivo de luto real. Saio da janela com medo de usar alguma cor que me associe aos ignaros órfãos da ditadura. O que vamos fazer? O que podemos fazer sem corrermos o risco do linchamento? Ainda podemos usar verde e amarelo, ainda podemos usar vermelho? Muito cuidado nessa hora, em que a "nação zumbi" se sente ultrajada.
DIVÃ FILOSOFIA
- E o seu terapeuta, como está?
- Ótimo! Eu deixo ele acreditar que faz a minha cabeça, e ele fica com o ego lá nas alturas.
- Muito bem, muito bem.