quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Qual um fiel em jejum, fez do face um livro de lamentações, infindo inverno cruel. Escreveu não leu, choveu no molhado. Melhorou ao constatar que não só o caos mora ao lado. Nas demais estações, um bocadinho de paz.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

domingo, 17 de novembro de 2013

Um trovão aterrador me jogou num susto de volta à infância, lá no interior do Maranhão. Era ouvir um barulho desses e a gente saía correndo no maior alvoroço, cobrindo todos os espelhos. Não se sabia o porquê, a gente só obedecia a ordem de cima: nenhum espelho podia ficar descoberto, nenhum. E se havia relâmpago, o cuidado era redobrado. Vai que um raio cai na minha cabeça - pensava eu, tão novinha pra morrer torrada. Ao pé da minha mãe, agarrada num terço, eu e minhas irmãs ficávamos quietinhas, quase sem respirar, até que o Deus Trovão se acalmasse. As rezas da minha mãe eram poderosas. Nenhuma de nós morreu torrada, muito menos de susto. Medo de trovão não tenho mais, hoje os espelhos estão descobertos. Crendices, mistérios, superstições, no véu da infância para sempre. E o aconchego da minha mãe.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

EXPECTATIVA é aquela ilusão do abraço de são pedro no paraíso pós-vida, impreciso. depois da espera desvendar o intrigante segredo: só os vermes te darão boas-vindas. e ainda irão te comer - no pior sentido.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

terça-feira, 22 de outubro de 2013

domingo, 8 de setembro de 2013

- E de onde vem a poética feminina? De alguma caixa de música com bailarina? 
- Vem da porra que os machos desperdiçam tocando punheta com luvas de pelica.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

quando a vida estiver um saco, é preferível dar piti a consentir que todo mundo dê pitaco!

domingo, 1 de setembro de 2013

E disseram os apóstolos: para a vaidade dos predadores de Cristo, dez padres-nossos a mais que para a soberba dos literatos.

sábado, 17 de agosto de 2013

Sabe aquele feirante que sempre faz um gracejo infame quando você passa? "Moça bonita não paga mas também não leva". Não se aborreça. Simpaticamente, sorria. Qualquer hora dessas ele vai chamá-la de senhora, madame, e você sentirá uma patética nostalgia.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

já rezei todas as rezas, existidas e inventadas, caçando cabimento pra essa vida aziaga. desisti. desfaço tudo, rendo-me ao nada. 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

desejo de roubar da infância aquela torta de maçã que vovó Donalda deixou na janela

quarta-feira, 17 de julho de 2013

solidão é tudo que nus, 
acompanha



(a partir de uma frase de João Carlos Makarius)

sábado, 13 de julho de 2013

sábado, 22 de junho de 2013

sem unção

num surto, sumiu sem deixar rastros. viu que no final do túnel não havia luz. curto-circuito. quando seu corpo foi encontrado, cheirando mal e abandonado num quarto de hotel barato, começaram a se desesperar: como esconder dos outros o ato amoral? como encomendar sua alma ao céu? limparam as mãos com álcool gel e fizeram o sinal da cruz. cumprindo o protocolo, à guisa de unção, alguém balbuciou: "descanse em paz", sem nenhuma convicção.

segunda-feira, 17 de junho de 2013


Hoje em dia é difícil saber quem é idoso e quem não é, julgando pela aparência. Dia desses fui dar lugar a um senhor de cabelos brancos na fila da farmácia e ele se ofendeu, quase brigou comigo. Hoje, estava sentada no ônibus quando entrou uma jovem senhora, aparentando uns sessenta anos. Hesitei: dou ou não dou o lugar? Dei, e ela agradeceu sorrindo. Concluí que, na dúvida, é sempre melhor optar pela gentileza, mesmo que algumas pessoas não entendam.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

quem tem inteligência poética a seu favor não inveja a beleza empacotada à vácuo. o que põe mesa é o sabor do prato.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

terça-feira, 14 de maio de 2013

achava-se tão foda, mas tão foda, que acreditava que todas as vaias eram para ele. 

segunda-feira, 6 de maio de 2013

sábado, 4 de maio de 2013


e se eu estiver errado? perguntou-se num insight. não, não. balançou a cabeça e encerrou a autoavaliação. pelo sim pelo não, preferia continuar inarredável. repetir os mesmos erros. manter inalterada a sua posição. 

sexta-feira, 3 de maio de 2013

a mesa estava limpa, limpa, asséptica. nenhuma fécula no chão, não havia falha. nem o café da manhã foi servido para não macular a toalha nova. plastificada. 

sexta-feira, 5 de abril de 2013


o velho e melancólico miles da paulista questiona no trompete trêmulo o que dizem teus olhos. cético davis.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

terça-feira, 2 de abril de 2013

segunda-feira, 1 de abril de 2013


Pedestre discutindo com flanelinha numa calçada de São Luís:


- Porra, sai do meio da calçada, tu tá atrapalhando meu caminho, filha da puta!

- A calçada é pública, doido, eu num tô te empatando nada.


- Deixa eu passar! Sai da frente, caralho!!!


- Caralho é o senhor, caralho é o senhor...

terça-feira, 12 de março de 2013


no coro dos arraigados 
ofaçofaço meu s          faço meu solo movediçomeu solo movediçofa

domingo, 10 de março de 2013

após levar uma reprimenda monumental do chefe na presença de duas funcionárias, o sub ficou completamente desmoralizado. ele passava, as duas cochichavam, davam risadinhas, debochavam. do sub. ele ensaiava uma ordem, elas ignoravam, fingiam que não ouviam. o sub. foi se sentindo cada dia mais humilhado, até entregar os pontos e pedir demissão. as duas funcionárias, habituadas que estavam à chacota, passaram então a debochar do chefe. não queria demití-las, havia dado muito poder a elas. sentia-se em suas mãos. e assim elas foram se apropriando de tudo, ocupando cada vez mais espaço. até rivalizarem e se engalfinharem para ocupar o lugar dele, o chefe. que virou suco. quer dizer, sub.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

domingo, 17 de fevereiro de 2013